Vitor Calai

Pente-Fino no INSS: Análise Jurídica

Em 2024, o governo federal anunciou a intensificação das revisões nos benefícios previdenciários concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), conhecido popularmente como “pente-fino”. Esta medida faz parte de uma estratégia do governo para revisar e auditar os benefícios previdenciários e assistenciais. O objetivo principal é identificar irregularidades, fraudes e benefícios pagos indevidamente. Esta ação é motivada pela necessidade de otimizar os recursos públicos e garantir que os benefícios sejam destinados a quem realmente tem direito. No entanto, esta revisão pode gerar preocupação entre os beneficiários, especialmente para aqueles que tiverm os seus benefícios suspensos ou cancelados. Este artigo analisa o alcance do pente-fino, a meta do governo, os direitos dos segurados e as medidas que podem ser tomadas em caso de suspensão ou cancelamento dos benefícios.

  1. Intenção do Governo com o Pente-Fino em 2024

O governo federal, ao implementar o pente-fino, busca não apenas a regularização dos pagamentos indevidos, mas também a contenção de despesas no orçamento da seguridade social. A estimativa oficial aponta que a revisão irá atingir 800 mil beneficiários que pode gerar uma economia significativa aos cofres públicos, em cerca de R$ 10 bilhões, de acordo com projeções divulgadas pelo Ministério da Economia. Tal medida é justificada pela necessidade de equilibrar as contas públicas, especialmente num cenário de austeridade fiscal.

1.1 Alcance do Pente-Fino

O pente-fino do INSS em 2024 é uma ação de auditoria ampla que abrange diversos tipos de benefícios, incluindo aposentadorias por invalidez, auxílios-doença, Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS) e outros benefícios assistenciais. O foco principal são os benefícios temporários, concedidos há mais de dois anos e que não tenham passado por nenhuma revisão ou aqueles que apresentam alguma inconsistência nos dados cadastrais. Esta ação teve início em 1º de agosto.

1.2 Meta do Governo

O governo federal, por meio do pente-fino, busca economizar recursos públicos, corrigindo distorções e fraudes no sistema previdenciário. A meta é revisar milhões de benefícios em todo o país, resultando na suspensão ou cancelamento daqueles considerados irregulares. Estima-se que, com essa ação, o governo irá economizar bilhões de reais em 2024, direcionando os recursos economizados para áreas prioritárias, como saúde, educação e investimentos em infraestrutura.

  1. Quem Será Atingido pelo Pente-Fino?

Os principais alvos do pente-fino são os benefícios de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e BPC/LOAS. Esses benefícios são legalmente revisados em razão de sua natureza, que exigem uma comprovação contínua da condição que deu origem ao benefício. O pente-fino poderá atingir:

  • Beneficiários de Auxílio-Doença: Especialmente aqueles que estão recebendo o benefício há mais de dois anos sem terem passado por novas perícias médicas.
  • Aposentados por Invalidez: Aqueles com menos de 60 anos que não foram submetidos a avaliações médicas recentes.
  • Beneficiários do BPC/LOAS: Pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada, voltado para idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, podem ser convocadas para revisão de sua condição socioeconômica, ou estejam com o Cadastro Único (CadÚnico) para programas sociais desatualizado.
  • Segurados que não realizaram a prova de vida anual: A realização da prova de vida é obrigatória, e sua não realização pode levar a suspensão do benefício.
  • Beneficiários que não atenderam às convocações anteriores do INSS: Estes segurados tem uma maior probabilidade de ter seu benefício revisado ou suspenso.
  • Beneficiários com dados inconsistentes: Dados cadastrais ou contributivos apresentados em divergência ou inconsistentes estão na mira do pente-fino.
  • Outros Benefícios: Outros benefícios que podem passar pelo pente-fino são o auxílio-acidente, o auxílio-reclusão, a pensão por morte e o salário-maternidade.
  1. Direitos dos Beneficiários Atingidos Pelo Pente-Fino, o Que Fazer em Caso de Suspensão ou Cancelamento

A convocação do pente-fino será feita através de uma carta enviada ao beneficiário no endereço cadastrado. Além disso, mensagens de texto no formato SMS ou notificações no aplicativo Meu INSS também podem ser enviadas.

3.1 Direito à Defesa e Recurso

Todos os beneficiários notificados terão a instauração de um processo administrativo de revisão ou de apuração de indícios de irregularidade de benefício, que será realizado em observância aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, garantindo as partes envolvidas a apresentação de argumentos, provas e manifestações sobre os fatos alegados.

O beneficiário convocado pelo INSS tem o prazo de 30 dias para apresentar os documentos pessoais e aqueles que comprove a permanência de sua incapacidade, como laudos médicos e exames atualizados. A regularização dos dados é o primeiro passo em caso de ausência de prova de vida ou inconsistências cadastrais.

3.2 Revisão de Benefícios

Após a regularização, o segurado pode exigir ao INSS a reativação do benefício, mediante análise da documentação apresentada.

Os segurados que tenham seus benefícios revisados ​​e mantidos sob revisão periódica deverão estar atentos às novas convocações do INSS e às exigências de documentação adicional. Manter os dados cadastrais atualizados e comparecer a perícias médicas, quando solicitadas, são medidas essenciais para evitar a suspensão do benefício.

3.3 Recurso da Decisão

Se o pedido de reativação for indeferido o segurado poderá interpor recurso administrativo junto ao INSS, dentro do prazo legal de 30 dias, conforme previsto no  art. 126 da Lei nº 8.213/1991.Este instrumento é o meio de contestar as decisões do INSS, que serão analisadas pelo Conselho de Recurso da Previdência Social (CRPS), que é um órgão colegiado, independente e não subordinado ao INSS, com competência de controle jurisdicional das decisões do INSS nos processos de interesse dos beneficiários.

3.4 Judicialização

Caso o recurso administrativo seja indeferido, o segurado ainda pode recorrer ao Poder Judiciário. A judicialização é um caminho comum, especialmente quando há necessidade de uma análise mais aprofundada das provas médicas ou de questões relacionadas ao direito adquirido.

A Justiça Federal é o foro competente para tratar essas questões, e a assistência de um advogado especializado em direito previdenciário é crucial para o êxito da ação.

  1. Medidas Preventivas e Recomendações
4.1 Manutenção da Documentação Atualizada

É importante que o beneficiário mantenha sempre sua documentação atualizada junto ao INSS, especialmente laudo médicos recentes, exames e relatórios que demonstrem a continuidade incapacidade laboral e justifique a concessão do benefício.

4.2 Respostas às Convocações

É fundamental que o segurado responda a qualquer convocação do INSS, afim de evitar a suspensão automática do benefício. O não comparecimento à perícia médica ou a não apresentar ad documentação solicitada pode resultar na perda do benefício.

4.3 Consultoria Jurídica

Em caso de dúvidas sobre a regularidade do benefício ou sobre a melhor forma defesa em um eventual processo de revisão, é fundamental que o seguro busque a orientação jurídica de um advogado especializado em direito previdenciário, ele é o profissional qualificado e com conhecimento para poder preparar uma defesa qualificada, tanto na esfera administrativa quanto judicial.

Conclusão

O pente-fino nos benefícios previdenciários é uma medida que, embora justificada pelo poder público como uma forma de conter gastos e combater às fraudes, gera impactos significativos na vida dos segurados. A revisão pode acarretar a suspensão ou cancelamento de benefícios essenciais a subsistência de milhares de pessoas, exigindo dos segurados uma postura proativa na defesa de seus direitos.

O pente-fino do INSS em 2024 é uma medida importante para garantir a sustentabilidade do sistema previdenciário e o uso correto dos recursos públicos. A previsão de economia para os cofres públicos é substancial, mas deve ser ponderada com a garantia de que os direitos previdenciários, especialmente aqueles garantidos constitucionalmente, sejam devidamente respeitados.

É fundamental que os segurados atentem para os prazos e à documentação adequada para que possam recorrer, tanto na esfera administrativa como na judicial, a fim de reverter possíveis decisões injustas. Para isso é fundamental conhecer seus direitos e buscar a orientação jurídica adequada para reverter a decisão do INSS.

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